Espaço Cidadão

A saúde digital é considerada pelas Nações Unidas a principal forma de melhorar o acesso a saúde no mundo.

Afinal de contas, o que é saúde digital?

\A revolução digital no mundo 

O impacto das tecnologias digitais na sociedade faz parte de uma teoria maior, que é chamada de teoria da inovação (FREEMAN, 1985). Essa teoria tem bases profundas na noção que Schumpeter tinha da evolução socioeconômica mundial através das tecnologias, em suas mais diversas eras (SCHUMPETER; J.A., 1941) 

Figura 1: Representação esquemática das ondas de inovação “Schumpeterianas” (DIALOGUES IN CLINICAL NEUROSCIENCE • Vol 22 • No. 2 • 2020)

 

A digitalização levou a transformações profundas também na estrutura organizacional de diversas empresas ao redor do mundo, trazendo mudanças de cultura, de poder e da forma de participação dos colaboradores na construção e entrega de produtos e serviços (RICCIARDI et al., 2019) 

Vivemos hoje numa realidade de um mundo VUCA (do inglês Volatility, Uncertainty, Complexity, e Ambiguity), que significa um ambiente Volátil, Instável, Complexo e Ambíguo. Isso é consequência direta da revolução digital, tornando as mudanças um continuum frenético nas nossas vidas (KAMILA, 2019). Essa realidade se reflete através da web 3.0, com a super conectividade associada a internet das coisas, com o uso intenso de dados para tomada de decisões, com as redes sociais, e com a presença cada vez maior da inteligência artificial em diversos produtos digitais (LUPTON, 2014) 

Essa disseminação do uso de tecnologias digitais ocorreu em diversas indústrias nos últimos anos, incluindo a área financeira, a indústria automobilística, o varejo e o marketing. Contudo, na área da saúde, esse movimento se iniciou mais tardiamente, e ainda estamos em um processo de transição digital importante. Esse processo é essencial para que os serviços de saúde se tornem mais disponíveis para todos, tenham maior segurança, qualidade, e eficiência em suas ações (RICCIARDI et al., 2019).   

Mas afinal, do que se trata a saúde digital? 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde digital pode ser definida como “o uso seguro e com positivo custo-benefício das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para dar suporte à saúde e campos relacionados, o que inclui prestação de serviços, vigilância, literatura, educação, conhecimento e pesquisa na área”. Isso inclui a utilização de plataformas de computação, conectividade, dispositivos vestíveis com biossensores (Wearables), internet das coisas médicas (IoMT), inteligência artificial e data analytics (DHINGRA; DABAS, 2020). 

 

Apesar dessa ampla definição da OMS, ainda existe uma grande dificuldade para profissionais, usuários e gestores identificarem onde ela está presente no dia a dia, e quais os impactos, benefícios e cuidados associados à sua existência.  

Quais os impactos da saúde digital para a população? 

Na prática, a saúde digital é considerada pelas Nações Unidas a principal forma de melhorar o acesso a saúde no mundo. Numa resolução publicada em 2019, a Assembleia Geral das Nações Unidas determinou que houvesse um encorajamento de troca de informações e tecnologia entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para a aceleração de estratégias de saúde digital. A ideia de estimular a saúde digital no mundo tinha como principal objetivo alcançar as metas do Triplo Bilhão definidas pela OMS, que são as seguintes: 

“@ 1 bilhão de pessoas a mais com acesso universal a saúde 

@ 1 bilhão de pessoas a mais com proteção para emergências médicas 

@ 1 bilhão a mais de pessoas com acesso a programas de saúde e bem-estar”

A saúde digital, portanto, deve ser uma parte integral das prioridades em saúde, tanto na área pública como privada, beneficiando as pessoas de uma maneira ética, segura, e sustentável tendo como princípios a transparência, escalabilidade, replicabilidade, interoperabilidade, privacidade, segurança, confidencialidade e equidade (NATIONS, 2019). 

Quais os benefícios da saúde digital para os gestores? 

O principal benefício da saúde digital para gestores é justamente a possibilidade de analisar populações e indivíduos nas suas mais diversas nuances, utilizando os dados para decisões estratégicas.  

Em geral, quando analisamos a saúde populacional, temos dificuldades de separar os indivíduos, e trazer a tona suas particularidades para diagnósticos e tratamentos. Por sua vez, quando analisamos indivíduos, não conseguimos visualizar o todo. Com as ferramentas digitais, podemos ter o melhor dos dois mundos na área da gestão, analisando a população e individualizando ações para pessoas com diferentes necessidades de saúde.  

Na teoria, a saúde digital é uma das grandes formas de aumentar a equidade na gestão da saúde como um todo. Todavia, ainda existem abismos tecnológicos, culturais, educacionais e socioeconômicos que impedem a realização disso.  

O que os profissionais de saúde podem aproveitar da saúde digital? 

Os profissionais de saúde também têm diversos benefícios associados ao uso de ferramentas digitais na saúde. A utilização de prontuários eletrônicos, o uso de dispositivos de telemonitoramento, o uso da inteligência artificial para auxílio na tomada de decisões e treinamentos, são exemplos práticos de como os profissionais podem ajudar os pacientes a obterem melhores resultados nos seus respectivos tratamentos.  

Além disso, a utilização de ferramentas digitais pode facilitar a ampliação do acesso aos profissionais especializados, com o uso da telessaúde, nas suas mais diversas formas de atuação. 

Concluindo… 

A disseminação de intervenções em saúde digital faz parte de um processo de transformação digital na área da saúde, e envolve diversas questões culturais, socioeconômicas, políticas e estruturais, as quais precisam ser abordadas individualmente em cada país e região. 

Hoje a saúde digital se encontra presente nas nossas vidas, direta ou indiretamente, levando a riscos e benefícios que devem ser sempre analisados por gestores, profissionais e usuários do sistema de saúde.  

Portanto, a saúde digital representa não apenas uma realidade atual, mas uma forma eficiente de dar acesso a saúde para a população, com qualidade, individualidade, equidade e controle de custos.  

 Referências 

DHINGRA, D.; DABAS, A. Global Strategy on Digital Health. Indian Pediatrics, v. 57, n. 4, p. 356–358, 2020.
​FREEMAN, C. The economics of innovation. IEE Proceedings A Physical Science, Measurement and Instrumentation, Management and Education, Reviews, v. 132, n. 4, p. 213, 1985.
​KAMILA, T. Digital transformation theoretical backgrounds. Management Sciences Vol. 24, No. 4, v. 24, n. 4, p. 32–37, 2019.
​LUPTON, D. Critical Perspectives on Digital Health Technologies. Sociology Compass, v. 8, n. 12, p. 1344–1359, 2014.
​NATIONS, U. Resolution adopted by the General Assembly on 20 December 2018.pdf, 9 jan. 2019. 
​RICCIARDI, W. et al. How to govern the digital transformation of health services. European Journal of Public Health, v. 29, n. Supplement_3, p. 7–12, 2019.  ​SCHUMPETER; J.A. Business Cycles: A Theoretical, Historical and Statistical Analysis of the Capitalist Process. Journal of the Royal Statistical Society, v. 104, n. 2, p. 177–180, 1941.

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Veja na página 5 o primeiro artigo dessa série “Definição de telessaúde e suas modalidades” 

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